domingo, 30 de junho de 2013

Enfim, Santiago!

O ultimo dia foi de muita ansiedade. Mas também não poderia ser diferente. E que dia difícil! Talvez o mais difícil até então. Eram apenas 20 kms sem muitas subidas ou descidas. Na prática foi bem diferente! O corpo acho que já queria se acostumar com a ideia de não ter que andar mais e tudo ficou extremamente pesado e difícil. Depois dos 100 kms faltantes ( mais precisamente depois de Sarria) a coisa fica muito turística. Aquelas pessoas que você encontrava quase que diariamente desde o início lá na França com suas pesadas mochilas, roupas surradas, sem tomar banho mas com um incrível sorriso no rosto e disposto a caridade sempre uns aos outros vão dando lugar a meros turistas, bem-vestidos, sempre com pressa e usando suas mochilinhas minúsculas, sempre emburrados com as subidas acentuadas e despejando "Buen Camino" a todos se achando os veradeiros peregrinos. Isso acontece porque a igreja dá a Compostela para quem faz os últimos 100 kms sem precisar andar os 800 que eu andei. Mas é uma mera jogada de marketing religioso para encher mais os cofres do Vaticano claro. Você percee nitidamente a diferença de quem começou lá atrás e de quem começou perto de Santiago. O ultimo dia só piora. Encontrei inúmeras excursões escolares e um monte de gente fazendo a trilha gritando, conversando sem parar e você percebe qe aquela paz de caminhar lado a lado de alguém às vezes horas sem trocar uma palavra se esvai em memórias de um passado bom. Sim o ultimo dia é cansativo, irritante e longo mesmo que falte apenas alguns quilometros. Mas tudo muda quando lá do Monte do Gozo você vê pela primeira vez Santiago de Compostela, distante 5 kms. É uma sensação de alivio e recompensa. É acreditar e conquistar um objetivo tão difícil e desejado. É saber que ali está o recomeço de uma nova vida e a continuação de algo que vai além de uma simples caminhada. É olhar Santiago e ali ver sua família e amigos que ficaram lá atrás e que agora retornarão a você de braços abertos. É saber que quando ali chegar a mudança que talvez ocorra será apenas no essencial: amor, amizade, caridade e simplicidade. E indo mais fundo nessas qualidades, é encontrar a verdadeira paz de viver a vida como ela é oferecida a cda um de nós.

A chegada na Catedral foi de um clima de mistério e desnorteio. Afinal estava ali, não haviam mais setas amarelas a seguir. Então e agora? Estava no lugar certo? Me senti deslocado com tantos turistas e gente tentando ganhar dinheiro vendendo quinquilharias. Ali no meio da multidão fui buscando um a um, os verdadeiros peregrinos para recebermos a Conpostela e tomarmos uma merecida cerveja gelada nos mais de 30 graus da quente Galícia. O primeiro momento é assustador! Não sabia o que fazer ou para onde ir! Passado algumas horas fui comprar novas roupas. Renovei tudo: meias, cuecas, tenis, bermuda e camisetas. Tudo novo! Me olhei no espelho e ali percebi que um novo passo foi dado. Uma nova caminhada se iniciaria ali agora na vida nossa de cada dia.








sexta-feira, 28 de junho de 2013

Momentos Finais

Vai chegando perto dos últimos 100 kms para Santiago e vai dando um frio na barriga. É momento de pressa e reflexão. Tentativas em vão de responder perguntas como: afinal por quê estou aqui? Pra quê caminhar tanto? E depois de 1 mês caminhando todos os dias minha vida vai mudar? Claro que não tenho nenhuma resposta exata para essas questões mas mesmo se nada mudar eu tive a experiência de passar por tudo isso. De dar uma pausa na vida, de ter conhecido centenas de lugares lindos e pessoas incríveis. E acima de tudo de testar meus limites e saber que sou capaz de muita coisa assim como todo mundo é. Aqui vi muita gente acima dos 50 e até 60 fazendo a mesma coisa que fiz pela segunda ou terceira vez na vida e me surpreendi com eles. Também me testei e vi que em um dia consegui andar 43 kms e descobri que a diferença do 20 para o 30 ou o 40 é apenas a força de vontade e a perserverança. 
Bem hoje estou à exatos 60 kms de Santiago de Compostela, distância essa que pretendo fazer em 2 dias. Mas já vai me dando uma saudade de tudo isso. De cada dia ser um novo e diferente dia, de conhecer tanta gente e deacobrir que no fundo todo mundo é igual não importa de onde vêm, somos todos seres humanos e aqui, mais unidos do que nunca num caminho que é de todos e de cada um ao mesmo tempo. 













quinta-feira, 27 de junho de 2013

O Cebreiro

Estava ansioso por chegar no Cebreiro. Não foi fácil! Pela primeira vez eu me senti cansado e fraco a ponto de achar que não daria mais. Depois de uma pausa para tomar muita água e com uma vista incrível deu pra continuar. E depois a vista só melhorou. Estava chegando na Galícia! E que recepção! Ali eu tive as melhores vistas e inpressões do caminho. Alguns KMs após a placa cheguei ao Cebreiro. A cidade mais mística e misteriosa até então. Situada no alto da montanha com uma vista espetacular, a cidade parecia ter parado no tempo na época medieval. Foi ali também que ao visitar a igreja, uma das poucas que visitei, senti uma forte presença de São Francisco de Assis, que passou por ali em 1812 como peregrino também. Não sei porque comecei a chorar e acendi uma vela em sua homengem. Depois surpresa! Não tinha mais lugar na cidade para dormir! Com a ajuda de uns brasileiros, pra variar, entramos escondidos no albergue, tomamos banho e colocamos nossos sacos de dormir entre camas. Ao acordar a cidade nos saudou em despedida com uma das mais incríveis vistas que já tive. Cebreiro deixará saudades!








terça-feira, 25 de junho de 2013

Rituais

Uma das melhores coisas foi ter ficado em Villafranca del Bierzo. Descobri que lá  antigamente os doentes peregrinos conseguiam sua Compostela sem a necessidade de cruzar os morros perigosos para a Galícia rumo à Santiago. Também dizia a lenda que quem morria ali era livre de todos os pecados. O albergue que fiquei Ave Fenix, é um dos mais tradicionais do caminho todo. Ele existe há centenas de anos e no dia que eu fiquei hospedado fui presenteado com uma deliciosa Paella comunitaria, uma oração antiga, uma fogueira de São João e um ritual de bruxaria para bebermos a Quemada feita com Orujo, a cachaça galega. Pessoas esquisitas, hippies, e gente do mundo inteiro se reuniu para conversar e contar suas histórias. Mágico!







domingo, 23 de junho de 2013

quente

Hoje o sol venceu. Queria ter avançado uma cidade a mais mas estava muito muito quente. Sem nuvens, sem sombras. O jeito foi parar em Villafranca del Bierzo. Amanhã promete. Considerado o segundo dia mais dificil do Caminho de Conpostela, a "subida" de Villafrana até O Cebreiro promete ser hardcore. Hoje o dia ofereceu algumas poucas paisagens mas no geral foi seguindo rodovias e ufff que calor! Haja água! Até dei um cochilo no meio do caminho pra aguentar o dia! É isso! 









sábado, 22 de junho de 2013

De Astorga a Ponferrada

Finalmente a paisagem mudou e pra muito melhor! Uns 5 kms antes de chegar em Astorga, do topo de um grande morro tem-se a vista de Astorga ao fundo e sua imponente catedral. Era o início de uma caminhada que mudava os ares, mais difícil, de muitos altos e baixos ( e bota altos e baixos nisso! ) mas de uma incrível beleza! O hostel de Astorga não foi muito legal mas deu pra dormir tranquilo. A cidade é linda e possui um castelo construído por Gaudi que mais parece uma mini Hogwarts! Lukas conseguiu se recuperar dos pés e chegou até lá e eu nem vou falar mais nada de despedidas por aqui pois já vi que essa amizade vai longe a passos grandes hehe. Após Astorga uma bela caminhada de uns 30 kms passando por bosques, morros floridos e sempre lindas paisagens. Dormimos em Forcebadon num péssimo albergue. Dormi cedo pra hora passar rápido e seguir viagem no dia seguinte. Estava ansioso pois 2,2 kms montanha acima estava a Cruz de Ferro, onde joguei minha pedra que trouxe do Brasil. Os peregrinos jogam uma pedra que carregam consigo desde o início da caminhada representando o peso e os problemas que são jogados e deixados para trás. Foi muito difícil atirar minha pedra o que mostra quão enraizado estou com algumas coisas que gostaria de deixar para trás. Depois de uns 5 minutos segurando firme atirei-a com força no monte de pedras aos pés da Cruz de Ferro. Depois veio uma das etapas mais bonitas e difíceis até agora. Descer a montanha ladeira abaixo. Foram horas de descida. Lá de cima uma baita vista e se via Ponferrada a mais de 20 kms de distância, destino de hoje. Hoje pra descansar mais não fui a um albergue mas peguei um quarto provado num hostel. Jajá vou visitar o castelo dos Templários que tem aqui. Saudades master do Brasil, da familia, dos amigos! De poder colocar uma roupa normal :) Hasta la vista!